No meio de uma geração disputada e sempre trazendo inovações, existiu um mercado que cresceu calado por um bom tempo, até pegar todo mundo de surpresa. Em 1994, o celular dinamarquês Hagenuk MT-200 abriu a porta de um mercado que seria muito lucrativo no futuro, ao trazer Tetris para os donos desse aparelho.
Bicho feio...

Como nesse ramo ainda estava engatinhando, Tetris não foi o suficiente para alavancar as vendas da empresa, fazendo a Celteco ser comprada em 1995. Embora tenha sido impopular, outra empresa gostou da idéia, trazendo Snake para o 6110, da Nokia, se tornando o primeiro telefone com multiplayer graças a sua porta infravermelho, junto de outras funções que se tornariam padrão na telefonia mundial. O sucesso foi tão grande, que os próximos modelos trouxeram jogos mais avançados: Snake2, Snake EX, Space Impact, Bumper e alguns outros que alavancaram as vendas dos produtos da empresa finlandesa, e despertaram o interesse de empresas como a Sony Ericsson e a Siemens, trazendo uma nova era para o ramo mobile...
Trial Bike, bem no início do Java...

Em 2002, apareceram celulares com uma tecnologia nova, ao mesmo tempo que nova, uma velha conhecida: o Java, em versão para dispositivos móveis, também chamado de J2ME, aparecera em sua primeira versão no Siemens M50 e no Nokia 3410, que mesmo monocromáticos, podiam baixar e executar um(sim, apenas um) jogo por meio de fontes externas. Embora não pareça surpreendente, foi ela que abriu as portas para o desenvolvimento de jogos independentes, disponibilizando jogos para todos os gostos. Mas tinha um problema: pelas limitações do Java, a esmagadora maioria dos jogos careciam de ação, e poucos possuíam efeito side scroll, limitando ainda mais o espaço em tela. Mas uma empresa viria a mudar isso...

Um mito nascia...

Nesse mesmo periodo de tempo, começou a aparecer jogos repletos de ação, ao estilo Arcade, para as telas dos primeiros dispositivos J2ME. Siberian Strike, Real Football Evolution e Prince of Persia foram os primeiros jogos de uma Gameloft que até então, brigava contra a dificuldade tecnológica da época e uma crise que abatiam as empresas ponto com. Mesmo com esses problemas, a Gameloft não se abateu e continuou investindo no mercado, evoluindo lado a lado com os jogos, e com a tecnologia Java.


Coincidentemente, na mesma época de expansão da Gameloft, a MIDP 2.0 foi popularizada, graças aos celulares de tela colorida. Agora as empresas poderiam trabalhar com um tamanho maior(de 30kb para incríveis 1Mb!), com API’s mais avançadas e com resoluções muito maiores, chegando ao, na época absurdo, tamanho de 240x320! Uma versão em cores do Prince of Persia foi lançada, A série Asphalt teve início nessa época e começaram a lançar ports de jogos da época. Esse foi o início da era de ouro do Java...


Java: Do auge a decadência:

Em 2003, a Nokia viu o surgimento dos “smartphones” rodando Palm OS e resolveu investir num smartphone que atuasse como um concorrente do Gameboy e, aproveitando a parceria para o Symbian, lançou o aparelho que é amado por uns, e odiado por outros: o Nokia N-Gage. Com medidas de 13,37cm de largura por 6,97 cm de altura e 2,02 cm de espessura, oN-Gage também possuía um MP3 Player, rádio, gravador, PDA, um cliente de e-mail via SMS,um navegador de Internet e ainda era um telefone! Também foi o aparelho que trouxe o S60, mais tarde rebatizado de Symbian, para a popularidade. Infelizmente, por problemas no design e sua forma “estranha” de se segurar o aparelho para realizar ligações não convenceram o público a comprar o N-Gage, que ficaram mais interessados no PSP e Nintendo DS. A nokia ainda tentou dar uma sobrevida ao projeto lançando o N-gage QD, mas o lançamento do iPhone enterrou de vez as chances do N-Gage emplacar no mercado, fazendo a Nokia desistir de vez do projeto em outubro de 2009.

Alô?!
Mas antes de descontinuarem o N-Gage, eles lançaram uma idéia genial: e se pudéssemos rodar nossos jogos em qualquer celular? Com esse pensamento, surgiu o N-Gage 2.0, que na verdade era uma linha de aparelhos equipados com Symbian, que já estava na 5ª versão na época. Mas com esse projeto, um problema já existente na época se acentuou ainda mais: a falta de retro compatibilidade entre as versões dos jogos do próprio sistema. Esse foi mais um projeto que fora abandonado com a chegada do iPhone...


Nesse meio também existiu o Maemo e o MeeGo, mas eles sofreram problemas no desenvolvimento e no planejamento, já que a Nokia queria manter o Symbian como sistema principal, criando uma certa divisão dentro da empresa: os que queriam o MeeGo como sistema principal, e os que queriam manter o Symbian como sistema principal: divisão essa que só foi resolvida após a Nokia abrir mão do sistema.

Visual parecido com o do MeeGo foi adotado na linha Asha. Se tivesse emplacado, talvez ele ocupasse o espaço atual do Android.

Enquanto a “alta linha” da Nokia não agradava o público e sofria com problemas, os atualmente chamados “feature phones” faziam a festa, aproveitando da facilidade de programar para o S40, e da compatibilidade dos seus aplicativos para outros aparelhos de empresas distintas. Qualquer um poderia comprar um Motorola V3, um Nokia 2280 ou um Samsung w200 e jogar um Asphalt 3, God of War, Mortal Kombat 3, Tekken, Soul of Darkness dentre muitos outros. O Auge do J2ME foi quando a Fishlabs lançou o jogo tridimensional “Galaxy on Fire 2”, lançado no começo de 2009. Um jogo enorme, com gráficos dignos do início do PS2 e fator replay gigante! Infelizmente, o retorno da empresa fora pequeno e a empresa se voltou a publicar os seus jogos no iPhone.

Parece PS2, mas é J2ME!
O auge dos S40 foi em 2008, e em 2009, veio a sua decadência. Enquanto no ano anterior, já possuíamos jogos belos como Real Footbal 2009 3D e gigantes, como Heroes Lore: Windws of Soltia, os desenvolvedores começaram a migrar os seus jogos para o iPhone, por serem mais fáceis de produzir e possuírem menos limitações. Assim o mercado java começou a perder o gás, mas ainda possuíam jogos de peso, como alguns jogos feitos pela Cartoon Network, um port do Zelda do NES e versões idênticas de jogos já existentes no iOS, como Doodle Jump e Parachute Panic.

Com a popularização dos Smartphones, os applets J2ME foram ficando obsoletos, e as empresas começaram a apostar no Android, com exceção da Nokia, que mesmo após a compra pela Microsoft, investiu nos S40 até metade de 2016, encerrando o suporte da linha Asha.

Asha 503: um fim vergonhoso para um sistema que fez tanto sucesso...
Atualmente, apenas empresas chinesas ainda investem no J2ME, criando jogos não licenciados para aparelhos orientais. Alguns até chegaram a fazer um relativo sucesso, como o King of Fighters 2010 e o Counter Strike CN.



Até que quebra um galho naquelas filas intermináveis de banco.
Se atualmente, você se diverte com Clash Royale ou os 300 Candy Crush’s lançados, lembre-se que houve uma época em que os jogos possuiam apenas 30kb, o controle era um teclado numérico e 3D era algo impressionante(e difícil) de ser aplicado num jogo.